Sei que tu dizes para eu viver minha vida. Mas quero me enraizar nos teus cabelos e cair
dentro dos teus olhos escuros. Sei que, de tudo, o melhor tu me desejas. E eu só quero
que o melhor seja ao lado teu.
domingo, 28 de outubro de 2012
Sobre a hora
olha,
antes eu queria que fosse tarde
e agora que é tarde
queria que fosse cedo
pois quando era cedo, tinha sono
e agora que é tarde, ele se foi.
antes eu queria que fosse tarde
e agora que é tarde
queria que fosse cedo
pois quando era cedo, tinha sono
e agora que é tarde, ele se foi.
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
Conto sobre a falta do que não será
Este violino que escuto agora, em meio ao caos que me
norteia, me remete a ti. Não sei se é o
violino, ou se são todos os momentos em que passamos juntos, mas, de certa
forma, estás em mim todo o tempo. Sinto falta do que vamos deixar de viver, meu
bem.
À moreninha
Adormeci. Prometi a mim que permaneceria de olhos abertos,
para contemplar tua beleza. Deitei de frente para ti. O breu, que tanto amamos,
nos permeou. Teu rosto eu via pela metade. Tão lindos traços. Uma boneca. Acordei,
enfim, e lembrei o porquê de ter dormido ali. Vi-te e despertei para a vida.
Conto sobre quando as unhas são cortadas
Certas vezes, quando você sai meio sem jeito,
sem rumo, nem roupa, encontra alguém. Aí acontece algo esdrúxulo e belo. É quando
você percebe que deve ter as unhas podadas, para não machucar de tanto amar.
Conto sobre um amor de verão em outono
Não posso te ver. Tenho vontade de te erguer em
meus braços, te beijar por inteira e elogiar tamanha beleza que transborda de
ti. Não posso te ver. Desejo assumir que te quero. Não consigo mais te ver. Tu foste
para tão longe, que meu olhar te perdeu.
À minha mulher
O medo que tu sentes de machucar meu corpo é, apenas, o medo
de machucar minh’alma. Não tenhas medo, meu bem. A dor, em mim, sempre vem
(minha solidão te atraiu, lembras?). Deixa-me aqui, como sempre fui: só. Foste linda,
enquanto foste. Agora tu vais e eu fico cá, com o machucado que tu deveras
temias causar.
Conto sobre quando as palavras acabam
Atraí-te pela minha solidão. Tu és tão linda e eu incapaz de te lembrar disso. Tuas mãos aquecem meu corpo,
Conto sobre uma espera
A cada quilômetro desta estrada, o ônibus resolver parar. Quanto
mais hei de esperar para, finalmente, te encontrar? Tu, que esperei durante a
minha vida.
Conto sobre os últimos escritos
Ela viajava serenamente - feliz, apenas. Escrevia contos e
poemas sem parar. Até o momento em que ouviu uma voz masculina, no fundo do ônibus,
gritando “vamos, passe a carteira. Passe tudo.” Quando essa voz chegou ao seu
lado, e para a sua face apontou a arma, ela paralisou. Não poderia entregar
seus escritos. Então, levou uma bala entre os olhos. Seus escritos se
eternizaram. O sangue escorreu. O povo calou. Escureceu. O ônibus parou. E a
voz fugiu.
Mais um de desamor
Mal sei quem tu és,
E tu não permites que eu saiba.
Sei teu nome.
Sei como fico ao te encontrar.
Sei que desejo todos os dias tua boca na minha
E minha mão entrelaçada na tua.
Conheço todos os pensamentos e sonhos que criei em ti.
Ilusão.
Não sei quem tu és,
Mas sei que te quero.
Sei que tu existes,
Mas que nunca serás meu.
Desequilíbrio
Ah, se você pudesse saber
Quão grande é meu querer,
Meu bem querer por ti.
Ah, se eu ganhasse
Reciprocamente teu amor.
Quem me dera...
Talvez tamanho desejo acabasse junto com a dor da platonicidade.
Conto sobre quem achou a liberdade
Ele queria ser livre, então se tornou uma árvore. Criou raízes
profundas e, assim, pode mover-se livremente.
Ouvi uma conversa e quis responder
O coração sofre, algumas vezes.
Por amor, ou falta dele,
Por perder, o que não é se de ter,
Por sorrir, quando se quer chorar.
Pobre coração.
Despedaçou-se e, inútil,
Dilacerou todo o ser
sábado, 6 de outubro de 2012
Conto sobre uma resposta que veio em sonho
- Queria ver sua expressão ao receber meu envelope. Dentro deste,
coloquei seu presente de aniversário (uma música arpejada). Queria saber se
você choraria ao escutar (como eu fiz) ou se quebraria o disco ao meio e o
jogaria no lixo.
- Nunca ninguém insistiu em insistir em algo que insiste
tanto.
Conto sobre uma viagem
Ele entrou no ônibus e sentou. Arrumou os bancos. Sabia que
as próximas oito horas seriam demasiadamente cansativas. Conformou-se. Colocou os
fones de ouvido e permitiu que o jazz o invadisse. Ele aprendera o conceito de “feio”
e havia muita gente que se encaixava dentro dele, ao seu redor. Recordou-se dos
amores. Lembrou que havia presenteado um deles com um CD (composto por uma
música que ele fez para ela, de aniversário). Então pensou na possibilidade de
o ônibus dançar na pista e explodir. Ele morreria. Assim, ele escreveu poesia,
para eternizar seu amor, seu pensar, seu desgosto. O odor fétido de fruta
estragada o enjoava. Só não mais do que a vida que levava. Chorou pelos
desamores. Quis um cigarro. Um vinho. Quis algo que o matasse mais depressa. Suas
anotações caíram no chão. A lua surgiu. Ele adormeceu, por fim.
Conto sobre humanos que passam despercebidos
Pobre Joaquin. Velho, casado e porteiro. Perdera um irmão,
logo após ter perdido sua filha mais brincalhona. Seu irmão (ainda que
macérrimo) morrera por conta de uma pressão alta e diabete. Sua filha
(jornalista importante)sofrera um acidente. O carro explodiu, após a colisão, e
ela fora queimada até não sentir mais nada. Senti compaixão pelo bondoso
Joaquin.
O pobre estava inconformado. “Os filhos não deveriam ir
antes.”
Contudo, Joaquin tem um neto. Este ainda está vivo. Porém sem pai. Forte,
como a dor o tornou, quase não chorou pela morte da mãe.
Frágil Joaquin. Tão sensível, tão humano. E ainda há quem o
veja como um singelo porteiro, apenas.
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
Conto sobre o sofrer
Sinto uma necessidade absurda de chorar pelo cego, pelo
surdo. Chorar pela moça que sofre, pelo bicho que morre. Choro por detalhes. Creio
que gostaria de chorar por estar sentada no chão em que te vi cantando uma canção.
Olho onde você sentava, mas há outra pessoa em seu lugar. O cheiro do pó ainda é
o mesmo. A bela canção que agora escuto não se assemelha à sua, mas me levou à
ti. Meu bem, que entrou em minha vida, que assim como veio, se foi.
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Filosofia
A dor amadurece o ser.
A solidão gera dor.
Pensar demais gera a
solidão.
A dualidade gera o
pensar.
A fragmentação gera a
dualidade.
O mecanicismo gera a
fragmentação.
Teorias e filosofias
geram e alimentam o mecanicismo.
A dúvida gera teorias
e filosofias.
A espiritualidade gera
dúvidas.
A Unidade (ser Um) gera
a espiritualidade.
A Unidade, portanto,
amadurece o ser.
Quando os olhares se cruzam
Bendito o instante do
vício
em que tu foste
na sacada.
Encontrou-me perdida,
em minha janela,
olhando para o nada
divagando em solidão.
Segundos bentos em
que nossos olhares
se cruzaram, sem mais.
Nunca passou disso.
Nem sei quem tu és.
terça-feira, 2 de outubro de 2012
A paz do meu bem
Comemoro o luto do
dia em que dissemos
adeus.
Passo só. Penso em
passar.
Passei pela vida,
por milhares de
instantes
passados rapidamente.
Me perdi pelo caminho.
Redescobri o ego,
me perdi um pouco mais.
Procurei teus abraços
em outros corpos – em
vão.
Pensei em ti,
então chorei.
Certa vez pensei
ter encontrado alguém
como tu.
Até o nariz era o
mesmo.
Doce ilusão.
Despertei, recordei...
te perdi.
Procura vaga, a minha.
Comemoro o luto, agora,
do dia em que o sol e a
lua voltaram
para seus próprios
lugares.
Desencontro.
Dedico aos três anos, que jaz (hoje) há um.
Meu parecer sobre o jantar solitário
Interessante. Saí
sozinha para jantar. Comecei a fazer poemas. Fui tratada tão bem.
Não sei se foi pena, por minha solidão, ou se pensaram que eu era
uma “avaliadora” da culinária. Engraçado, deveras.
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
Sobre uma janta solitária
Sento-me como o
costume,
porem só.
Pobres palavras que
saem de mim,
estão combinadas de
forma tão tristonha.
Mas sento-me aqui.
Espero pelo meu prato.
(Sorte a minha
(re)descobrir o rádio,
em tempos de tamanha
globalização.
Apaguei-me do mundo.
Reinventei-me no
passado
que nunca me
pertenceu.)
O suco de deliciosos
damascos
sobem em minha boca,
passeiam por ela
e invadem o cárcere em
que habito.
Escrevo pois estou só.
Escrevo para fugir
da realidade (mais) palpável.
Escrevo para não olhar
nos olhos de quem me
cerca.
Acostumei assim;
sinto-me inteira no
autismo.
Agora os entendo...
Conto sobre quem morreu de amor
Tão crente de física
quântica, ela fazia amor contigo todas as noites. Te amava em
pensamento. Vocês se amavam mutua e selvagemente em outra dimensão.
Em outra realidade, vocês eram apenas um. Certa noite, ela te
encontrou (em pensamento) e te amou loucamente, como de costume.
Gritos foram contidos. O coração pulsou e bombeou sangue para o
resto do corpo freneticamente. O ápice chegou. Depois disto, o
lençol pousou sobre seu corpo nu, e só, na cama. Ela adormeceu
profundamente. Foi então que uma pequenina aranha marrom a picou, na
nuca. O dia amanheceu e ela permaneceu dormindo. Viveria, finalmente,
ao lado seu. Nessa dimensão, morrera só, porém em paz.
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