quarta-feira, 4 de julho de 2012

Conto sobre os morangos da infância


 Lembrei-me agora de quando eu subia nas árvores, que ficavam no lote da minha casa, no mesmo lugar em que eu colhia os morangos plantados pelo meu querido avô, na mesma época em que Cai Cai Balão era uma das músicas mais difíceis de tocar ao piano, por haver um acorde esdrúxulo, assim como em Capelinha de Melão, que tinha o acorde de fá, na sua segunda inversão. Mesma época em que cantar e tocar (com as duas mãos, muito rapidamente – claro) “o café com pão é muito bom, mas com manteiga é bem melhor, café com pão é muito bom, mas com manteiga é bem melhor” era a coisa mais divertida do mundo.
Lembrei-me, também, da emoção de ter o meu primeiro caderno de pauta (tenho a visão dele sobre um livro, em cima do sofá) e do cheiro da escola em que eu fazia piano (cresci sentindo aquele cheiro, e há pouco descobri que é a mesma fragrância do lustra-móveis que comprei para limpar minha casa).
Aliás, eu cresci. Os pés de morangos secaram, mas ainda haviam ameixas amarelinhas, jabuticabas e laranjinhas do céu (doces e azedíssimas ao mesmo tempo. Deveras: uma fruta dos céus). E as árvores (ah! As árvores) continuavam com as madeiras que meu pai, outrora, havia pregado para nós brincarmos (para mim, meus irmãos e vizinhos). Tinha também alguns balanços simples: uma madeira para sentar, suspensa por duas cordas que ficavam presas nas árvores da calçada. Mas que sorte a minha, ainda poderia sentar nas pedras, colher jabuticabas e encostar nas árvores depois das minhas classes de piano – mesmo não havendo mais morangos.
Os balanços arrebentaram (como sempre), as laranjinhas também secaram, eu mudei de casa, minha avó (que morava ao lado) também. O curso de piano acabou, meu avô morreu e a saudade dos pés de morango... ah! os pés de morango...estes também foram, mas ficaram, de certa forma.





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