Lembrei-me agora de
quando eu subia nas árvores, que ficavam no lote da minha casa, no
mesmo lugar em que eu colhia os morangos plantados pelo meu querido
avô, na mesma época em que Cai Cai Balão era uma das músicas mais
difíceis de tocar ao piano, por haver um acorde esdrúxulo, assim
como em Capelinha de Melão, que tinha o acorde de fá, na sua
segunda inversão. Mesma época em que cantar e tocar (com as duas
mãos, muito rapidamente – claro) “o café com pão é muito
bom, mas com manteiga é bem melhor, café com pão é muito bom, mas
com manteiga é bem melhor” era a coisa mais divertida do
mundo.
Lembrei-me, também,
da emoção de ter o meu primeiro caderno de pauta (tenho a visão
dele sobre um livro, em cima do sofá) e do cheiro da escola em
que eu fazia piano (cresci sentindo aquele cheiro, e há pouco
descobri que é a mesma fragrância do lustra-móveis que comprei
para limpar minha casa).
Aliás, eu cresci. Os
pés de morangos secaram, mas ainda haviam ameixas amarelinhas,
jabuticabas e laranjinhas do céu (doces
e azedíssimas ao mesmo tempo. Deveras: uma fruta dos céus).
E as árvores (ah! As árvores) continuavam com as madeiras
que meu pai, outrora, havia pregado para nós brincarmos (para
mim, meus irmãos e vizinhos). Tinha também alguns balanços
simples: uma madeira para sentar, suspensa por duas cordas que
ficavam presas nas árvores da calçada. Mas que sorte a minha, ainda
poderia sentar nas pedras, colher jabuticabas e encostar nas árvores
depois das minhas classes de piano – mesmo não havendo mais
morangos.
Os balanços
arrebentaram (como sempre), as laranjinhas também secaram, eu mudei
de casa, minha avó (que morava ao lado) também. O curso de piano
acabou, meu avô morreu e a saudade dos pés de morango... ah! os pés
de morango...estes também foram, mas ficaram, de certa forma.

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