Era um dia azul. Ela
vestia azul para combinar com seus olhos. Seu acompanhante também
trajava azul. Ambos sentaram num sofá (azul), próximo à janela,
para contemplar o céu, que estava magnificamente lindo... e azul.
Em seu peito, ela
abriu um espaço para o aconchego. Abraçou alguém, aquele dia.
- Em que tanto pensas?, indagou ele.
(Posso não te querer. Mas te quero perto. Quero-te bem. Quero-te
assim. Quando tu deitas em mim, e meus dedos embolam teu cabelo, o
puxando sem querer, não consigo voar no tempo. Não consigo sair do
instante em que nos encontramos, não parto nem para o segundo
seguinte. Fico presa nos nós dos teus fios, e não consigo sair
deles. Sinta como está meu coração. Quase para, quase paro por
inteira ao lado teu. Paro no tempo.)
- Nada, em nada penso.
Claro que ela gosta do som que o silêncio faz, mas, naquele
instante, preferiu elogiar a parede. Ah, sim, naquele dia, ela não
só abraçou, como foi abraçada. Teve seu corpo envolto por braços
que, sem querer, a protegiam de coisa alguma e de tudo, ao mesmo
tempo. Até o instante em que se viu só (sem abraços) novamente.
Sentiu-se perdida, até quando seu nariz se prendeu ao do outro.
Enroscados, abraçados e no silêncio tão adorado por ela... ficaram
assim por algum tempo, que ela (por estacionar nos instantes) não
saberia ao certo quanto.
(Preciso
ir. Não devo me sentir cheia e bela quando tu estás aqui. Preciso
aceitar que as coisas acabam, e criar uma pausa breve. Não devo. Até
quero. Mas não posso. Desejo-te. Não devo. Até quero. Mas não
posso...)
- Eu vou embora. - ela disse, por fim.
E, então, ela abandonou frigideiras, cozinhas, paredes, sofás e
camas, argilas e saiu... sob o sol que raiava no céu azul.

Foto de M. Lopes
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