quinta-feira, 5 de julho de 2012

Conto sobre as relações que secam sem querer


 Era um dia azul. Ela vestia azul para combinar com seus olhos. Seu acompanhante também trajava azul. Ambos sentaram num sofá (azul), próximo à janela, para contemplar o céu, que estava magnificamente lindo... e azul.
Em seu peito, ela abriu um espaço para o aconchego. Abraçou alguém, aquele dia.

    - Em que tanto pensas?, indagou ele.

    (Posso não te querer. Mas te quero perto. Quero-te bem. Quero-te assim. Quando tu deitas em mim, e meus dedos embolam teu cabelo, o puxando sem querer, não consigo voar no tempo. Não consigo sair do instante em que nos encontramos, não parto nem para o segundo seguinte. Fico presa nos nós dos teus fios, e não consigo sair deles. Sinta como está meu coração. Quase para, quase paro por inteira ao lado teu. Paro no tempo.)

    - Nada, em nada penso.

Claro que ela gosta do som que o silêncio faz, mas, naquele instante, preferiu elogiar a parede. Ah, sim, naquele dia, ela não só abraçou, como foi abraçada. Teve seu corpo envolto por braços que, sem querer, a protegiam de coisa alguma e de tudo, ao mesmo tempo. Até o instante em que se viu só (sem abraços) novamente. Sentiu-se perdida, até quando seu nariz se prendeu ao do outro. Enroscados, abraçados e no silêncio tão adorado por ela... ficaram assim por algum tempo, que ela (por estacionar nos instantes) não saberia ao certo quanto.

(Preciso ir. Não devo me sentir cheia e bela quando tu estás aqui. Preciso aceitar que as coisas acabam, e criar uma pausa breve. Não devo. Até quero. Mas não posso. Desejo-te. Não devo. Até quero. Mas não posso...)

    - Eu vou embora. - ela disse, por fim.

E, então, ela abandonou frigideiras, cozinhas, paredes, sofás e camas, argilas e saiu... sob o sol que raiava no céu azul.


Foto de M. Lopes 

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